"Sorte do espectador, pois trata-se de uma das estéticas mais singulares do cinema atual, feita a partir de momentos desgarrados da vida íntima de personagens artísticos e emocionalmente instáveis".
Confira a crítica de Ruy Gardnier:
Relações delicadas
Depois de uma carreira inteira longe das telas brasileiras (inclusive festivais), Philippe Garrel tem seu quarto filme em sequência lançado no Brasil. Sorte do espectador, pois trata-se de uma das estéticas mais singulares do cinema atual, feita a partir de momentos desgarrados da vida íntima de personagens artísticos e emocionalmente instáveis. O essencial de seus filmes é que as imagens são tão frágeis e delicadas quanto a sensibilidade atribulada de seus personagens. Garrel boicota impiedosamente a narrativa de modo a dar para cada cena a unicidade de um instante sem antes ou depois.
“O ciúme” é, mais que uma história, o traçado da vida de um ator (Louis Garrel) durante o período de uma relação amorosa — e conflituosa — com uma atriz que não consegue emprego (Anna Mouglalis).
Em pouco mais de 70 minutos e num preto-e-branco belo e sóbrio, o filme é um pequeno ensaio sobre romantismo desesperado no mundo efêmero de hoje (não à toa, um dos atores colegas do protagonista chama-o de “jovem Werther”, como o personagem de Goethe).
De filme a filme, Philippe Garrel filma sistematicamente a mesma coisa: as paixões que começam e acabam, as relações com os pais e com os filhos, a instabilidade da vida (e do mundo). “O ciúme”, talvez mais que outras de suas obras, mostra um cineasta em sua zona de controle, flertando menos com o imprevisível. Ainda assim, é incrível a intensidade que Garrel consegue extrair de tudo aquilo que filma, seja um simples rosto de mulher chorando ou uma família sentada num banco de praça.
Fonte: http://rioshow.oglobo.globo.com/
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