domingo, 23 de novembro de 2014

"O Ciúme": Uma ciranda amorosa

No jornal O Estado de S. Paulo, o crítico Luiz Zanin Oricchio comentou sobre o filme "O Ciúme". Segundo dele, o longa é  "Uma ciranda amorosa, só que filmada com todo o rigor de quem se reivindica autêntico herdeiro da Nouvelle Vague".

Confira a critica completa abaixo:





O imbróglio amoroso imaginado por Philippe Garrel lembra aqueles versos de Carlos Drummond de Andrade em ‘Quadrilha’. Em O Ciúme, é Louis (Louis Garrel, filho do diretor) que deixa Clotilde (Rebecca Convenant), a mulher com quem ele havia tido um filho, por outra, Claudia. Louis é amado por Claudia (Anna Mouglalis). Mas, um dia, ela conhece um arquiteto e, agora, é Louis quem teme ser abandonado.
Ou seja, uma ciranda amorosa, só que filmada com todo o rigor de quem se reivindica autêntico herdeiro da Nouvelle Vague. Garrel é autor atento às relações humanas. E dá aos sentimentos a espessura da contradição. Eles são sempre complexos, não-lineares e difíceis de serem entendidos pela lógica cartesiana. Todo mundo que já teve uma experiência amorosa radical sabe como é. Mas aqueles que fizeram do cinema comercial (em especial o norte-americano) sua única fonte de educação sentimental têm a ilusão de que essas coisas são simples. Não são. Garrel sabe disso.
Para completar suas fontes de referência, Garrel filma em preto e branco e usa planos longos e contínuos. Trabalha com o próprio filho, no limite da angústia de um personagem que sabe estar sendo vítima de sentimentos irracionais e, mesmo assim, nada consegue fazer para evitá-los. Está diante da ancestral tragédia do ciúme, que já foi tratada de diversas maneiras e por autores de todas as épocas. O clássico ‘Otelo’, de Shakespeare, é o melhor exemplo dessa tradição.
No longa, que concorreu em 2013 no Festival de Veneza, sobra acuidade na percepção da psicologia dos personagens. Não tenta explicá-la de maneira definitiva, mesmo porque os relacionamentos são suficientemente complicados para deixar boa parte de sua natureza na sombra. A natureza dessa ‘investigação’ (vamos chamá-la assim) lembra muito a que faziam em seus filmes diretores como François Truffaut (‘A Mulher do Lado’) e Jean Eustache (‘La Maman et la Putain’). É cinema para adultos.










Fonte: http://blogs.estadao.com.br/




Au revoir!

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